São Paulo, SP, 8 de Abril de 2018.
Querido presidente,
Você viu a final do campeonato paulista? Falaram que tem televisão aí. Eu juro que sou completamente desprovida de conhecimento futebolístico, mas vibrei quando o Corinthians ganhou, soltei um grito mesmo. Pensei, poxa, o Lula vai ficar feliz. O Lula merece umas vinte vitórias do Corinthians, mas por enquanto essa serve.
Eu tava lá no sindicato dos metalúrgicos, naquele dia horrível, mas nunca tinha estado lá antes; Infelizmente quando você tinha cabelo eu não participava do momento ainda, visto que tenho 19 anos; a gente não se conhece. Mas eu já te devo muita coisa.
Seu presidente, minha mãe é a minha inspiração, e você é a inspiração dela. Você é a razão pela qual a gente sabe, com exemplos recentes, que esse país pode ser um negócio lindo, se a gente lutar por ele. Você é o cara que cala, com uma palavra, uma Avenida Paulista de gente, e não por medo, igual querem fazer te botando na cadeia, mas por respeito. Você é a razão pela qual minha mãe pôde votar por uma mulher presidente, porque Dilma Roussef é muito do caralho, mas ela não teria chegado lá, o partido não teria chegado lá, sem você. Nenhum de nós seria a mesma pessoa sem você, dentro ou fora do movimento; mas você deve saber disso, seu presidente, então eu vou falar das coisas que você não sabe: A forma com que a minha mãe chorou, um choro de orgulho, de quem luta, quando você disse que os poderosos não têm como impedir a chegada da primavera: Ela chorou porque militou ao seu lado, e sabe que é verdade. Você faz ela acreditar que a primavera será verdade novamente. Obrigada por isso, seu presidente. Obrigada pelo fato de minha amiga poder ir para a faculdade de Medicina, uma faculdade à altura do talento natural dela por sinal (ela dorme e sonha que está operando fígados, seu presidente, pode acreditar que seu trabalho foi bem feito, porque ela será a melhor médica que esse país já viu). Obrigada por dar à minha outra amiga, que perdeu dois filhos e não acredita em nada, algo pra acreditar. Você não nos conhece. Mas a gente conhece o símbolo.
Eu sou jovem, seu presidente, e tenho medo. Fala-se em ditadura militar; você está aí dentro e não aqui fora com a gente. Você deveria estar se preocupando só com a gente. Você deveria estar se preocupando só com o resultado do jogo do Corinthians, hoje, e eu deveria estar me preocupando só com os meus estudos; Eu deveria ter certeza de que vou poder expor minha arte LGBT; daqui 3 anos; Eu deveria ter certeza de que vou poder votar em você (dedos cruzados, seu presidente). Mas se lamentar não é produtivo pra mim, nem pro nosso país; Minha mãe me ensinou que é preciso ir à luta, e você ensinou a ela. Você é um ser humano, e eu sei que você está cansado e que você deve ter tido medo, mas você manteve sua cabeça erguida, e isso fez toda a diferença do mundo pra mim. Eu sei que você sabe que você é importante numa escala global, mas espero que você também saiba o quanto você é importante numa escala individual, única: Quando você falou pra gente carregar seu manto, você tem que saber que a gente já carregava.
Seu presidente, eu vou lutar. E eu pretendo inspirar as pessoas ao meu redor a fazer o mesmo: Isso eu aprendi com você. Por favor, fique bem, Vamos continuar indo adiante juntos, tá?
Até a próxima;