Querido Presidente Lula,
Minha história o senhor já conheceu um pouco (envio em anexo uma lembrança). Essa carta é mais uma oportunidade para expressar a minha admiração e gratidão por tudo o que o senhor representa na vida deste país e na minha vida pessoal.
Sou historiadora, tenho 28 anos. Venho de uma família pobre do interior de Minas Gerais e sou uma das poucas pessoas desta família que teve a oportunidade de ter ido para a universidade.
Acabo de retornar de um estagio de doutorado sanduiche em Stanford, Estados Unidos. No documento de certificação, o querido amigo e professor Gumbrecht, um dos maiores humanistas vivos no mundo que lá me recebeu, escreveu que fui a melhor aluna visitante que ele conheceu em seus mais de 25 anos naquela instituição. Devo isso a você! Devo a oportunidade de ter tido voz em uma das melhores universidades do mundo a sua teimosia em enfrentar a história miserável deste país. Mas minha gratidão vai além.
Em seu mais recente discurso o senhor disse ser uma ideia. Não. Permita-me discordar. O senhor é mais que uma ideia. O senhor é uma força, uma energia, uma presença. É a condição que permite às ideias emergirem. O senhor, querido presidente, é a própria história. E eu sou grata por você ser (e ter aceitado ser) este destino por meio do qual muitos como eu puderam existir.
Confesso que há mais melancolia no meu coração do que esperança no futuro. (Aliás, falar do futuro é uma capacidade que poucos no mundo possuem como o senhor). Nosso povo está triste, violento, egoísta, abrindo mão de sua dignidade e conscientemente parte dele tem escolhido o que há de mais injusto e de mais perverso.
Mas o senhor deve se lembrar, eu tive vergonha do meu pai por ser um simples trabalhador, um peão de mina. Hoje graças a você, à sua luta, eu tenho orgulho, orgulho profundo de meu pai. Orgulho profundo de minha mãe. Orgulho profundo da minha história campesina e operária. Orgulho profundo da minha vida. E isto é lindo!
Por isso, quero compartilhar com o senhor que apesar da (e junto a) minha melancolia, eu assumo o compromisso de ser uma força, de ser uma presença dedicada e restituir a sua grandeza e a grandeza de todos os trabalhadores e trabalhadoras deste país.
Lutemos, presidente, para provar uma vez mais que somos sublimes por recusar a história cretina que nos legaram.
Com todo meu amor, admiração e respeito,
PS.: Espero ainda um dia, presidente, poder encontra-lo pessoalmente para o café que me convidou. Torço para que este dia não demore.